Como um lugar que se constrói
Texto de Francisco António Clode de Sousa
Uma paisagem é muitas vezes uma construção. Se demorarmos o olhar sobre um lugar, ele pode passar a ser para sempre nosso. Fica como uma parte indizível da nossa história. Um campo indiscutível das nossas emoções secretas.
Mas convenhamos, esses lugares não existem fora de nós. São uma ocasional mistura de planos fixos e em movimento, de pormenor ou de distância. De sol e de chuva, de vento e outros mistérios.
Os meus lugares secretos, são sempre os lugares que já foram, irrepetíveis e não visitáveis, porque quando se volta, se chega com a memória e ela é inimiga do encantamento.
Nos desenhos de Beatriz Horta Correia, eu sinto o olhar de quem procura, de quem decidiu que a busca é um meio e não um fim.
Por vezes há horizonte, noutros casos fixamos o que nos está muito perto, ou melhor, o que nos é mais próximo e urgente. As formas são lugares imprecisos, porque não estão decididos. São uma metamorfose do que é e do que foi ou do que talvez possa ser. Uma espécie de indisciplina de sentidos.
Claude Lorrain, na sua “Pastoral”, acentua pela luz a verdade de um lugar que só ele conheceu. Assim se decidiu Antoine Watteau, no seu “Embarque para Cítera”, onde a viagem foi o pretexto para conhecer os viajantes.
Não há melhor lugar para estar, como aquele que desejamos ser a cada instante da nossa viagem.
Uma linha quebrada, um passo em falso, um trilho na lama, uma réstia de luz, devem sempre ser a consequência de um esforço resoluto em encontrar o que só nós poderemos ver.
Francisco António Clode Sousa, um dia de Abril de 2007

Exposição
"Quase paisagens" 2007
Casa Colombo-Museu do Porto Santo;
Galeria Rosadarua, Lisboa, 2008;